
Você já sentiu que esperam que as mulheres sejam sempre dóceis, discretas e conformadas? Que a educação feminina deveria formar boas esposas e mães, e não mentes brilhantes?
No século XVIII, Mary Wollstonecraft desafiou essa ideia de forma ousada. Em uma época em que mulheres eram consideradas intelectualmente inferiores, ela ousou escrever Reivindicação dos Direitos da Mulher, uma obra que questionava o papel imposto a elas e defendia algo revolucionário: que as mulheres mereciam o mesmo acesso à educação que os homens.
Sua voz ecoa até hoje, inspirando gerações a não aceitarem menos do que a igualdade.
A vida de Mary Wollstonecraft
Muitos a conhecem como a mãe de Mary Shelley, a autora de Frankenstein, mas Wollstonecraft deixou um legado muito além disso. Ela foi uma filósofa e escritora que, ainda no século XVIII, desafiou as normas sociais ao defender os direitos das mulheres, sendo considerada a primeira pensadora feminista da história.
Mary Wollstonecraft nasceu em 1759, na Inglaterra, em uma família de classe média que enfrentou dificuldades financeiras. Segundo biógrafos, em diversas ocasiões, desde jovem, ela enfrentou a realidade de um lar abusivo. Seu pai, Edward Wollstonecraft, era violento e alcoólatra, e frequentemente agredia sua mãe, Elizabeth.
A jovem Mary, determinada a proteger a mãe, muitas vezes ficava na porta do quarto para impedir que o pai entrasse e a machucasse. Esse episódio da infância é significativo porque reforça o espírito protetor e a força que ela demonstrou desde cedo, além de ser uma das experiências que moldaram sua visão crítica sobre o casamento e a opressão das mulheres.
Sua vida pessoal foi cheia de desafios, como a perda de sua amiga Fanny Blood e relacionamentos complicados, mas ela nunca deixou de lutar por suas convicções. Mary faleceu em 1797, após o nascimento de sua filha Mary Shelley.
O legado de Mary
Em uma época em que as mulheres eram destinadas ao papel de submissão e domesticidade, Wollstonecraft escreveu sua obra mais famosa, a Reivindicação dos Direitos da Mulher (1792).
Ela acreditava que a educação era a chave para a igualdade, pois permitiria às mulheres pensarem de forma crítica e participarem da sociedade em pé de igualdade com os homens.
A filosofia de Mary foi profundamente influenciada por suas próprias experiências de vida. Criada em uma família falida, ela testemunhou, desde cedo, as limitações impostas às mulheres pela falta de educação e independência financeira.
Para sustentar a si e suas irmãs, Mary trabalhou como governanta, tradutora e escritora. Essa luta pela sobrevivência e autonomia foi o combustível que a fez querer ver outras mulheres livres das amarras que definiam seu valor apenas pelo casamento.
Seus primeiros trabalhos, como Pensamentos sobre a Educação das Filhas (1787) e o romance Mary: Uma Ficção (1788), já revelavam sua crítica à sociedade patriarcal e a urgência de mudanças.
Esses escritos, assim como seus tratados políticos e históricos, a tornaram uma figura de destaque nos círculos intelectuais de Londres, onde debatia ideias com pensadores como Thomas Paine e William Godwin.
A crítica de Wollstonecraft a Rousseau
Na Reivindicação dos Direitos da Mulher, Wollstonecraft critica duramente Jean-Jacques Rousseau, especialmente sua obra Emílio, onde ele define um papel restrito para as mulheres, argumentando que sua educação deveria ser voltada apenas para agradar os homens e para a vida doméstica.
Wollstonecraft condena essa visão, afirmando que Rousseau, apesar de suas ideias progressistas para os homens, negava às mulheres a mesma capacidade de raciocínio e desenvolvimento.
Para ela, as mulheres também têm a capacidade de pensar criticamente e devem ser educadas para se tornarem independentes e autônomas. Ao limitar a educação das mulheres, Rousseau perpetua a opressão, criando um ideal feminino passivo e submisso, o que Mary considera uma enorme injustiça.
O impacto de suas ideias hoje
Mesmo após séculos, as palavras de Wollstonecraft continuam atuais. Sua defesa da independência feminina, da igualdade no casamento e do direito à educação ainda faz parte das pautas feministas. Ela nos lembra que a educação é essencial para que possamos lutar por mudanças.
Se você se sentiu inspirada por essa história, sugiro a leitura do livro Reivindicação dos Direitos da Mulher. Que tal usá-la como ponto de partida para refletir sobre os nossos direitos e liberdades?
Para complementar sua leitura:
Sarah Bonfim lê Mary Wollstonecraft: Mulheres que leem mulheres.