
Há uma crença equivocada de que a matemática é um campo predominantemente masculino, enquanto as mulheres seriam mais inclinadas a áreas como: música, poesia e arte.
Essa visão perpetua uma dicotomia artificial entre disciplinas consideradas ‘masculinas’, ligadas ao raciocínio lógico e científico, e ‘femininas’, associadas à sensibilidade e criatividade.
No entanto, essa divisão não passa de uma construção social, profundamente enraizada no patriarcado que moldou a ciência e a cultura ao longo dos séculos.
É como se as esferas do pensamento racional, objetivo e científico, tradicionalmente atribuídas aos homens, fossem incompatíveis com a subjetividade e a sensibilidade que se associam às mulheres.
Essa separação, entretanto, é uma falácia. Mulheres sempre contribuíram de maneira significativa para áreas como a matemática, filosofia e ciências, mas seus feitos foram sistematicamente invisibilizados.
Historicamente, a matemática foi associada à racionalidade, talvez porque suas aplicações práticas estivessem ligadas à engenharia, astronomia e outras áreas vistas como masculinas. Enquanto isso, a poesia e a arte, ligadas à emoção, ao subjetivo, foram romantizadas como territórios femininos, domínios da delicadeza e da alma.
No entanto, tanto a matemática quanto a poesia exigem um profundo exercício criativo, uma sensibilidade fina para ver o invisível e construir significados a partir de abstrações. E quem disse que o ato de criar teorias matemáticas não é, de certa forma, uma arte?
Essa visão que marginaliza as mulheres nos campos científicos não é apenas uma questão de capacidade ou talento, mas sim de espaço e permissão social. O papel das mulheres na ciência foi muitas vezes silenciado ou invisibilizado, não porque lhes faltasse a capacidade de criar grandes teorias, mas porque lhes foi negado o “direito” de desenvolver e divulgar seu trabalho.

As mulheres que se destacaram na matemática e em outras ciências enfrentaram e continuam enfrentando obstáculos institucionais, como a falta de acesso à educação formal. Isso sem falar no apagamento histórico, já que muitos de seus trabalhos foram atribuídos a seus maridos, pais ou colegas homens.
Theano de Crotona, por exemplo, é uma dessas figuras cuja contribuição à matemática foi obscurecida pela figura de Pitágoras. Acredita-se que ela tenha desenvolvido teorias importantes sobre proporções e o número áureo, mas a autenticidade dessas obras é frequentemente questionada.
Hipátia de Alexandria, outra gigante da matemática, teve uma trajetória igualmente dramática: seu assassinato brutal e o apagamento de suas obras nos mostram como o espaço da mulher no raciocínio matemático e filosófico era visto como uma ameaça.
Não é que as mulheres não tenham a capacidade de criar grandes teorias — elas criaram, e continuam criando! O que faltou (e ainda falta em muitos casos) é o reconhecimento.
Outro dado que me chama atenção é que sempre colocam um ponto de interrogação nos fragmentos encontrados dessas pensadoras. Tal teoria teria sido mesmo desenvolvida por uma mulher? Sem dúvida que esses questionamentos acerca dessas autorias refletem a hesitação em reconhecer a legitimidade do pensamento feminino em espaços intelectuais tradicionalmente dominados por homens.
Trazer à tona as histórias dessas mulheres que, apesar dos obstáculos, contribuíram significativamente para a matemática é uma maneira de reescrever a narrativa.
Precisamos falar de mulheres como Ada Lovelace (1815-1852), que muitos consideram a primeira programadora da história, ou de Emmy Noether (1882-1935), cujo trabalho em álgebra abstrata e física teórica foi revolucionário.
Essas figuras demonstram que a mulher é plenamente capaz de transitar pelos campos do cálculo e da criação, do racional e do sensível – porque, na verdade, essas divisões são construções sociais, e não barreiras reais ao talento ou à capacidade intelectual.
Nunca podemos nos esquecer que nós mulheres ainda não estamos em pé de igualdade com os homens, pois, nos foi negado, durante séculos, o direito fundamental à educação.
Nesse contexto, relembro que Christine de Pizan defendeu o direito das mulheres à educação, afirmando que as mulheres eram igualmente capazes de aprender e ter sucesso, mas lhes faltavam oportunidades.
Portanto, precisamos romper com as barreiras impostas e reconhecer que o espaço do conhecimento, assim como o da criação, deve ser igualmente partilhado por todos, independentemente de gênero.
Quer saber mais sobre Theano de Crotona? Acesse: https://filosofianoceara.blogspot.com/2019/12/teano-ou-theano-de-crotona-546-seculo.html