Blog Edileusa Rosária

FILOSOFIA PARA MULHERES

Júlia Lopes: a fundadora da ABL que nunca tomou posse por ser mulher

Júlia Lopes de Almeida

Júlia Lopes de Almeida (1862-1934) foi uma escritora à frente de seu tempo, cuja obra e trajetória se destacaram em um Brasil em plena transformação social e cultural na virada do século XIX para o XX.

Contexto Literário

Ela ocupou a cadeira de número 26 da Academia Carioca de Letras e foi a única escritora que, em sua época, alcançou o prestígio necessário para ocupar um lugar na Academia Brasileira de Letras (ABL).

No entanto, por ser mulher, foi impedida de tomar posse, e sua vaga foi cedida a seu marido, o poeta português Filinto de Almeida. A ABL, inspirada na Academia Francesa, também excluía mulheres.

Vale lembrar que a Academia Brasileira de Letras só começou a aceitar mulheres em 1977, quando Rachel de Queiroz se tornou a primeira mulher eleita. Desde então, apenas onze mulheres alcançaram esse feito: Dinah Silveira de Queiroz (1980), Lygia Fagundes Telles (1985), Nélida Piñon (1989), Zélia Gattai (2001), Ana Maria Machado (2003), Cleonice Berardinelli (2009), Rosiska Darcy de Oliveira (2013), Fernanda Montenegro (2022), Heloísa Teixeira (2023) e Lilia Moritz Schwarcz (2024).

Temas que provocaram debates

Com mais de 40 obras publicadas, entre romances, contos, peças de teatro e literatura infantil, Júlia foi uma das poucas mulheres de sua época a viver exclusivamente de sua escrita.

Ela colaborou em periódicos importantes, como A Mensageira, e muitas vezes utilizava pseudônimos masculinos para driblar o preconceito de uma sociedade patriarcal.

Seus romances, como A Família Medeiros (1891) e A Falência (1901), retratam uma sociedade em transformação, apresentando personagens femininas que desafiam as convenções sociais em busca de autonomia intelectual e emocional.

Já a coletânea de contos Ânsia Eterna (1903) mescla questões sociais com elementos fantásticos, abordando temas complexos como violência contra a mulher, aborto e desigualdade social.

Júlia também explorou temas considerados tabus, como a educação feminina, a profissionalização da mulher, o casamento por conveniência e o adultério.

Com sensibilidade e estratégia, conseguiu inserir esses assuntos na literatura sem romper completamente com as normas sociais vigentes, alcançando um público amplo e provocando debates importantes.

Apesar de adotar um discurso moderado para garantir aceitação, a escritora foi uma voz importante em defesa dos direitos femininos. Ela desafiava, com sutileza, os papéis tradicionais atribuídos às mulheres e contribuiu para ampliar os espaços de atuação feminina na sociedade.

Seu pioneirismo continua a inspirar gerações, mostrando que, mesmo em ambientes hostis, é possível questionar normas sociais e abrir caminhos para a emancipação feminina.

Por que falar de Júlia Hoje?

Estudar Júlia Lopes de Almeida é mergulhar na complexidade de uma mulher que desafiou os limites impostos pelo seu tempo, ajudando a construir as bases da literatura brasileira. Sua obra é um convite para refletir sobre o passado e buscar inspiração.

Sugestão de Leitura: Ânsia Eterna é uma coletânea de 30 (trinta) contos que combina temas sociais relevantes, como a condição feminina e a desigualdade social, com elementos do fantástico, criando uma obra que desafia as convenções literárias e convida o leitor a refletir sobre as contradições da sociedade e da alma humana.

Capa do Livro do Senado
Clique aqui para acessar o PDF do livro gratuitamente.

A introdução dessa edição oferece um resumo sobre a vida e as obras de Júlia Lopes, uma escritora que merece ser redescoberta e celebrada.

Experimente e aproveite cada história!

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